terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sombras do Passado



Sentados à mesa, um copo de cerveja e uma pelúcia. Pai me dizia da natureza, do passado e do futuro. Era mais ou menos:
– Sabe, anjo, o passado assombra as pessoas. E por mais que você saia dele ele estará atrás de você e você o verá constantemente.
– Eu imagino, eu dizia para não dar continuidade, mas ele continuou.
– Sabe, o mundo é maldito. Eu só faço te proteger, não me condene. Eu condenei meu pai. Esqueci do passado dele que o assombrava, e ele me assombra. Eu sou, nós somos – ele corrigiu– a sombra dos nossos pais. Arrependimento nos condena por apontar. E o mundo é disso: acusações, injustiças e maldade. Em poucos você vai encontrar pura sinceridade e se encontrar saiba cultivar, mas não se dê tão fácil. O mundo sabe mentir, e ele fará, e quando menos esperar ele estará te dando uma facada nas costas por muito pouco ou nada. E você não se curvará a essa “política de sobrevivência”, mas terá o teu todos os dias, acredite.
Anjo, o mundo te engolirá viva. Você será uma isca num mar de aproveitadores e se puderem, ah, eles te usarão. Saiba não dar essa oportunidade. Eles te farão fraca pra se sentirem fortes, e você, você será forte por si mesma, sem sujar suas mãos, sem atropelar ninguém. Eles tentarão matar seu espírito por eles mesmos não terem. O mundo está cheio de ódio e fanatismo e fome. Eles tentarão te engolir, mas você será grande demais para eles.
Vendo aquela flor? Ela não tem maldade. A vida dela é tão simples e a maldade é grande e complexa demais. Por isso tamanha magnitude e nossa admiração. Seja uma flor, pense uma flor. Não tenha pretensão, o mundo tem de sobra. Não se sirva esperando reciprocidade. O mundo só te quer pelas costas. Eles tentarão te escravizar e você não será. Esse mundo é maldito. Eles são fracos de espírito e não te convencerão, me promete? Será uma flor.
– Eu sou sua sombra, pai...

Nenhum comentário:

Postar um comentário