quarta-feira, 27 de abril de 2011

Urbano Central


Tudo que resta do ontem é a saudade do amanhã. Adeus. Saudade do futuro desperdiçado pelo presente de planos tolos, uma xícara de café subordinada e mais um acidente na via principal, atrapalhando o fim de semana e a volta para casa. O único desejo conjunto é o desejo em comum - o que não significa uma transmissão de pensamento. Sonhar sonhos tão curtos e realizáveis te satisfaz em não ser tão impotente e desnecessário. Só dói quando não se acredita. E quando respiro.
Alguma coisa falta, mas não se sabe, não se vê. Viva ou morra. Em casos, é quase a mesma coisa. Morrer nunca é opção: é consequência - ou não. Trinta e oito fatores determinam seu dia, quarenta e dois fecham os seus olhos. Um, apenas um, desequilibra seu corpo e alimenta sua alma. Mas não se ama, não se vê. A alma é pobre. Está. E pode-se fazer alguma coisa. Pode-se fazer absolutamente tudo. Embora suas leis não te permitam viver com o peito, pode-se. Deve-se. Foda-se.
A energia e a preguiça do corpo me impedem de ser pisoteada pelas minhas próprias ambições. Eu sigo. E o coração se destrói a cada verdade mundana. Eu sigo. Refaço e caio, mas não paro. Sigo. Insistir parece idiota, mas eu faço preciso. Adio e me renovo. E, assim, sigo. Enquanto não se morre, vive-se. Talvez o que falte é um meio termo. Mas não quero. Sigo, já que é inevitável. Compreende?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Mundo É Grande Demais

 
Seria mãe do mundo, e o amaria da forma que é. Mas esqueço que o mundo significa pessoas. E o mundo não sabemos, por vezes, o que fazemos. Ou mesmo nunca. Choraria por cada vida, mas a vida se torna tão pouco mediante aos propósitos propriamente pessoais. Parece egoísmo, mas são características inerentes e um pouco de cultura. Correr sozinho contra a ventania é estúpido, mas se faz sentido, então faça. A vida coletiva é ilusória: por mais que vivam por você estão vivendo uma escolha delas. O mundo é ilusório. As pessoas são. Somos. Correrá sozinho, embora tenha companhia.
Companhia de quem? Do seu próximo, talvez. Não. A grande verdade é que estamos sozinhos em um mundo em que as pessoas só pensam em si mesmas, e não, não o amamos da forma que ele é, estamos sempre achando algo de errado para que cada um molde-o da forma que quer, para viver no "seu próprio mundo". Explodir talvez funcione, mas como boa e bem criada humana, não faria. Fingiria ser o que não sou e me isolaria por trás de uma personalidade comum. Explodir, então, não seria falar a "verdade", seria vê-la e eclodi-la. Por vezes é bom quebrar padrões, quebrar a própria casca e alimentar-se de si mesmo. Isso, isso é verdade. 
            Parece-me mais real ser quem realmente é, embora isso não tenha importância na realidade-nua-e-crua do mundo. E acrescento: na realidade que a maioria impõe. Então faça isso: seja sua verdade. Ser maioria é opção, não necessariamente "destino". O mundo é tão grande. Onde tudo é tão pouco, e não importa. Tudo é nada e nada é insuficiente. Mas se busca por nada. Estamos aqui, mas não importa. Amaria as pessoas, mas é difícil amar o que não se sabe. O que não se é. Seja, é o suficiente.


Por B. Estiano e Lorena de Oliveira

Dia por Dia


            Hoje eu ando breve e calma. Tão breve e necessária em um ponto tão amplo e claro do dia. Uma leve brisa despenteia as folhas do livro, eu sinto a paz entrar em mim e possuir-me rapidamente - as portas e janelas de mim estão abertas. Divina manhã, não sinto sequer a oscilação que me rodeia. Reza-se e clama dias assim, mas quase não sentimos quando chega. Tanto desperdício de paz, escândalo e incompreensão. Esconderia embaixo do tapete, mas não me importo com a aparência das causas, ou como as pessoas se portam diante a elas. Eu quero sentir o calor do sol e o frescor do vento, antes que partam.

domingo, 17 de abril de 2011

Diz Que Me Quer


            Eu não sei, mas não sei te encarar. Não desvio-me de você por jogo. Meu sorriso não é tímido, é real. Eu quero estar aqui, mas minha natureza diz que eu não posso. Eu tenho o mundo, mas desejo tão pouco, e é tudo. Não me interesso por ser novidade, ou mesmo singularidade. Eu realmente não sei. Aportei numa terra onde não sei de nome, mas sinto. E amo. Eu quero estar aqui, e estou. Não garanto que te amarei amanhã de manhã, mas não me abalo por pouco. E estou confusa. Não sei meu nome, de nome. Eu sei o que sou, mas apenas em flashes forçados o que quero.
            Não afirmo que me conhece, ou se é recíproco. Eu quero acreditar, embora perceba que somos tão próximos que se confunde quem seria eu, ou você. Ou nós. Ser nós parece óbvio, e é complicado. Eu sou estranha, e mal sei amar a mim mesma como o(s) amo, mas sei amar. Ainda não sei ser amada, na verdade, evito. Não compreendo. Evito olhar em você e me sentir nele, por dentro, em contato com o mais íntimo. Eu quero, mas eu não posso. Ou posso? Sinceramente, eu não sei, já disse que ando confusa. Abalada.
             Ando sorrindo que não sinto, mas sei. Transpareço diariamente isso que eu não tenho coragem de me afogar. Mas eu entrei, e de águas tão tranquilas e divinas não me permito sair. Não agora. Eu confio, mas não confio em mim, entende? Talvez não confie no futuro com tantas linhas tortuosas. Eu sei cair, mas não quero. Mas eu sinto que preciso e, dentro de respostas tão confusas e incertas, eu quero. E sinto.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ia

            Falaria de tudo se eu soubesse de tudo. Escreveria uma coluna de fofoca se eu acompanhasse a vida alheia. Desenharia um retrato, ou um espelho - gosto dos espelhos-, mas desenharia uma face mais torta do que meus julgamentos prematuros a imagina. Choraria lágrimas contadas, mas seria falso demais. Então não choro. Não mais. Não preciso. Chorar se torna tão inútil se for real. Mentir sim é útil, embora seja injusto roubar a verdade - mesmo que seja proteção. Proteção, assim como o amor, mata. Assim como a verdade.
            Falaria de amor, se não o negasse tanto. Amor é para os fortes. Ou só para amar. Ou só. Desejaria o meu melhor, se não gastasse minhas graças contigo. Eu quero o meu pior, assim eu imagino se eu me daria com o inferno. Não, isso não importa. Tanto pode acontecer... Atravessaria o mundo se eu não tivesse medo do mundo. Sonharia a noite, o mar e uma lua banhada nas estrelas, com seu brilho revelando as folhas tristes de um carvalho. Mas eu ignoro. E eu me ignoro. Bem...
            Falaria de mim, mas eu não quero. Falaria de você, mas você não quer me ouvir. Falaria, mas eu não quero falar. Escreveria mil versos, mas meus sonhos continuariam sendo os poemas. Sonharia, mas resolvi escrever. Desejaria, mas não desejo desejar certo na hora errada. Amaria, mas sou fraca. Só. Seria o não antes do sim. Sim. Confessaria as noites, mas vivo o dia. Vivo o dia. E talvez seja só. Talvez, só talvez, seja tudo.