quinta-feira, 7 de abril de 2011

Ia

            Falaria de tudo se eu soubesse de tudo. Escreveria uma coluna de fofoca se eu acompanhasse a vida alheia. Desenharia um retrato, ou um espelho - gosto dos espelhos-, mas desenharia uma face mais torta do que meus julgamentos prematuros a imagina. Choraria lágrimas contadas, mas seria falso demais. Então não choro. Não mais. Não preciso. Chorar se torna tão inútil se for real. Mentir sim é útil, embora seja injusto roubar a verdade - mesmo que seja proteção. Proteção, assim como o amor, mata. Assim como a verdade.
            Falaria de amor, se não o negasse tanto. Amor é para os fortes. Ou só para amar. Ou só. Desejaria o meu melhor, se não gastasse minhas graças contigo. Eu quero o meu pior, assim eu imagino se eu me daria com o inferno. Não, isso não importa. Tanto pode acontecer... Atravessaria o mundo se eu não tivesse medo do mundo. Sonharia a noite, o mar e uma lua banhada nas estrelas, com seu brilho revelando as folhas tristes de um carvalho. Mas eu ignoro. E eu me ignoro. Bem...
            Falaria de mim, mas eu não quero. Falaria de você, mas você não quer me ouvir. Falaria, mas eu não quero falar. Escreveria mil versos, mas meus sonhos continuariam sendo os poemas. Sonharia, mas resolvi escrever. Desejaria, mas não desejo desejar certo na hora errada. Amaria, mas sou fraca. Só. Seria o não antes do sim. Sim. Confessaria as noites, mas vivo o dia. Vivo o dia. E talvez seja só. Talvez, só talvez, seja tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário