quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Fumaça


Você estava perdido dentro da sua nuvem de fumaça. Agora você percebe que seus heróis morreram e não há quem lhe salve. Estamos juntos na balsa das drogas e bebidas e felicidade induzida. Não culpem os meios, e não julguem o fim: tudo veio de um maldito acaso. Já estávamos perdidos antes, senhores, e tudo agora não passa de consequências de ações passadas. Tudo é passado. Não temos presente. Só bebidas e drogas e felicidade induzida – aquela felicidade que é lhe dada a troco do seu corpo, sua saúde, sua vida, quem sabe. Mas é felicidade. Uns se matam por ela e outras deixam de viver por causa dela. Tem quem diga que a dita cuja é divina, mas eu não sei não, moço. Se eu souber lhe digo. Ou guardo mais esse segredo comigo com o teto da minha cama.
Estávamos lá. Éramos aquilo. E o mundo nos ignorava. Precisamos ser pura matéria para ocupar um lugar em algum lugar. Massa para ser modelada por qualquer um. Por qualquer coisa. Precisamos ser coisa, precisamos ser peça, precisamos ser roupa ou sapato? Eu preciso de drogas e bebidas. Flutuar no meu sangue até o meu cérebro. Viajar em mim mesma. Levar um choque de verdade só me afundaria mais e meu coração pararia. Não estou morta, não, moço! Só não estou vivendo como mandam. Talvez seja juventude, mas quero morrer jovem. Quero ser jovem e ter a teimosia de não me entregar. Eu quero é drogas e bebidas e felicidade pura. Ou só felicidade. Mas se não for induzida o mundo não me dará. É, amor, eu te salvo em você e você em mim, então não nos perdemos além de em nós mesmos.
Pois é, amor. Que nos percamos então. Que sejamos felizes sob o teto da minha cama. Que não sejamos nada além de nós. Se não for, que seja entre uma nuvem de fumaça flutuando em nossos sangues até nosso peito. Amor e drogas e bebidas e felicidade induzida. Que sejamos, então. Que seja, amor, que seja...

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