sábado, 29 de janeiro de 2011

Desventura


Eram sete ou oito cães, todos espumando raiva pelos olhos. Eu só tinha meus anjos da guarda, mas estavam do outro lado do beco. As sombras dançavam na festa da lua, e, de uma forma ou de outra, eu estava perdida.
Era 4h32min, ainda estava dormindo, mas meu corpo não quis saber: levantava de fome. Fui com o meu destino direto à cozinha, desci os 32 andares de lentidão que me ocupava. Cheguei. Acendi um cigarro, enchi um copo com café e outro com água. Peguei na geladeira geleia e fui preparar duas torradas. Depois de todo o processo me deixei cair a cabeça sobre o punho uma ou duas vezes. Na terceira – ou segunda– eu estava longe.
Estava, na verdade, no mesmo lugar. Estava tão escuro, tão apertado que me deu vontade de gritar dor. Tanta angústia me dizia que ninguém me ouviria. Tanta angústia… Reclamei em murmúrios o que não conseguia gritar. Estava acompanhada por dois anjos, eu acho. Pedi que acabassem com isso, e, com um sorriso de felicidade diabólica, me apontaram uma rua. Estava, agora, sozinha comigo e com minha angústia. Seguimos a rua, pois. Não sei o que era, mas o que eu mais queria era o real. Cansada de tanto andar naquele nada-com-nada, cheguei, enfim, a um beco sem saída, claro – que outro fim teria?
Sete ou oito cães ouviram meu lamento. Os cães, os anjos, as sombras e a lua. Eu sozinha. Acordei com o alarme das 6h15min. De qualquer forma, eu estava perdida.

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