Meu coração se corta a cada batimento. Nunca senti minha respiração tão pesada, como se eu soubesse o que os ventos haveriam de me trazer. Eles me trouxeram até aqui, me contaram que seria dor. Dor não é abstrato se pesa no ar. E eu senti. Pensei em chorar, mas as lágrimas, por mais que se façam gritos da alma, não diriam nada que lhe trouxesse de volta. Ah Deus, preciso de força. Força que ele levou quando saiu arrancando a carne, meu sangue e uma parte do eu-de-verdade. Um eu que era-lhe de direito: ele, em parte, construiu.
É difícil notar a presença do que está tão perto, como se fosse parte de você, até que se vai. Talvez um dia nos vejamos novamente, teremos uma nova vida juntos. Ou você pode ser só um espaço, dentro de mim, onde eu guardo as fotografias, amor, choro e calor daquelas manhãs em que te dava "bom dia", onde eram verdadeiramente bons. Pode ser só uma saudade boa. Os ventos me avisaram, eu senti. Aprendi, como punho, o que é sentir. O que é sentir saudade antes de ir. E você foi – com uma parte de mim. Deixei que a levasse. Eu prometi: nunca te deixaria. E, de uma forma, ainda está aqui. Eu sinto.
Pensei em mil palavras para quando estivesse indo, mas nunca pensei que iria ficar calada. Tentei escrever uma carta, mas ela me rasgava com tantos pensamentos. Eu te quero comigo, ah Deus! Você é tanto, não meu. É tudo. Eu quero, eu quero. E você, e Ele? Não sei se me rasgo de ciúmes ou de saudade. Vontade. Vontade de ter feito tudo que adiei fazer, tudo que adiei dizer. Eu te amo tanto, e mesmo sabendo que sabe, eu tive que dizer. Dizer em palavras caladas, enquanto ia. Eu fui contigo enquanto estava comigo. Está. Eu sinto.