Ei, olhe pra mim. Digo para mim mesma quando vou embora, me deixando viva em mim, de qualquer forma. Não me reconheço quando olho no espelho e procuro a garota do olhar gentil. No lugar disso vejo incontáveis cicatrizes ora feitas por mim, ora feitas por mim em relação ao mundo. Ninguém é culpado, até que me prove a justiça eleita a troca de papel sujo e abuso e escravidão. Estou desesperada, mas não hei de entregar minha alma e corpo para objetos ósseos, cuja função é deteriorar toda a vida que há em cada que vive. Talvez para matar sua fome - não.
Ei, ouça a voz que nasce de dentro da fantasia e vem te acordar da vida real. Se for isso que deva ser, seja, mas deixa-me enfeitar o carrossel que misturará a bossa e a tristeza sólida que nos consome numa massa ilusória de normalidade. O solo de guitarra quebrará meus pratos, enquanto eu estarei sentada aos pés do violão, pedindo um pouco de paz. Respirando fundo, esquentando seu lugar na cama... Há tempos que não lhe vejo. Digo, não te vejo em carne, já que me visita constantemente. Eu sei que sim. Estávamos lindos admirando a despedida calorosa e avermelhado da tarde, pequenos pontos brancos anunciavam previamente a entrada da noite à cena. A vista panorâmica compusera um plano de fundo, mas o que realmente valia sob o céu vermelho, era um pequeno amor encarnado em três corpos. Tanta vontade...
Agora eu sei que não devo confiar em mim, ou me mato de novo. Não confie tanto em mim, flores, ou nos mato para sempre. E quem há de se servir do nosso enterro? O céu é divino, e disso me faço muito pouco. Na verdade, eu nunca fui fiel a tais crenças. Sei que em algum lugar em mim, onde me escondo em segurança, há um pouco de tudo que realmente é divino – e não recito minha invenção de Deus, Ele merece meu descanso– ou pelo menos tudo que conheço. Um amor, três corpos enfeitados e revestidos por um manto vermelho quente, com brisa forte e mansa a banhar um dos mais divinos nascimentos. Ei, durma dentro de nós. E quem sabe assim seja eterno.
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