segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Do Mesmo Barco


Sua guitarra chora enquanto eles riem, você chora e eles não vêem. Seu calor possessivo se agrega em outro lar, e ela está na cama de outro. Sua fatídica esperança está morrendo, mas não antes de você. Estamos confusos e no mesmo barco, querido. A realidade não é a mesma quando descobrimos que é outra. Estamos saturados de sentimentos, e você fala com as paredes. Minhas drogas estão ficando fracas, minha dor de cabeça só aumenta, minha alma está latejando, se debatendo de dor. Ou são minhas veias pulsando. Aquele cheiro de bebida ainda está impregnado nas paredes enquanto fala com elas. Nossas pragas estão nos comendo vivos, e eles riem.
“Brindemos a vida, ela é boa”, eles disseram no ano novo de 1997. Ah, se eu pudesse fotografar esse dia. O céu reluzia a novidade, nossos abraços sorriam a verdade inventada e adotada por nós. Quem somos nós? Desde meninos perguntávamos, mas por normalidade preferimos crescer com essa ignorância. Desde meninos amávamos por sermos nós mesmos, e crescemos amando um mundo que não é ele. Talvez seja natural um banho de chuva no verão e um atentado no inverno. Matei-me pela primeira vez. O inferno não tinha lugar para mim, menos ainda o céu. Embarquei no fogo de Dante. Sabe, até que a morte tem gosto bom, senhor. Mas tive medo de me viciar e não poder provar de novo.
Seu mel caiu na minha blusa, esse outono. Sua carta de despedida estava na sua chorona. Ela chorava alguma dos Beatles que eu não pude decifrar – eu não sabia o que se passava em mim, em nós. Éramos um pedaço um do outro, e você me deixou tão metade quando resolveu ir. Minhas intuições tentaram me avisar que ela estava vindo. Ela veio e você foi embora. Sua vida tem gosto de nada, mas você sabe que ainda pode voltar. Você sabe, a vida é boa. Esperar-te-ei sair de você mesmo e deixar as paredes. Porque você sabe. A vida é boa. E eles riem à ignorância.

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