Com essa intensa cantoria na minha cabeça: notas e notas diante de mim, me encantam e me envolvem - logo, estou possuída. Eu não sei onde estou, mas não estou perdida. Eu me sei aqui, nesse lugar. Não me importo o caminho se eu puder andar de mãos dadas comigo, (s)em paz. As luzes me mostrarão o caminho de volta, ou de ida. E se eu tiver, eu vou. Ou fico. Eu sei de mim, mas onde estão os outros? Eu passo por lugares, e me lembro de cada estátua de pedra-sabão reluzindo à luz da manhã quente; vejo pombos rondando o chão esperando brotar do céu sementes, provavelmente enviadas pelos deuses. Mas me vejo com a paisagem sem gente, só vultos sem rosto. Fantasmas?
Eu ando andado sem rumo, literalmente. Curvava as linhas do breve horizonte, sumo em ônibus que não sei onde me deixarão. Não vejo pessoas. Ultimamente, não sei o que eu vejo. Memórias visuais vazias de concreto. Cabeça cheia de músicas e pensamentos. Pensamentos tão soltos que logo esbarram nos pensamentos arquivados e todos saem voando num sopro de atenção. O que mais eu posso perder? Sinceramente, eu não lembro.
Fantasmas não aparecem para me assombrar, não esses. Eu caí no mundo e talvez eu faça parte dele. Sinto-me tão desnecessária, tão própria e mimada. Não sou maior que tudo que tenha importância. O que tem importância? Não lembro, vai ver o mimo tenha destruído a minha importância-casual. As pessoas são tão pouco minhas que mal as reparo. Não as vejo em lembranças frescas, e raramente nas maduras. As pessoas não são minhas, e não tenho vontade que sejam.
Propriedade privada, pássaros e desordem. Desordem em mim, mimo entre nós - por isso foi, não é? Se calar é pior do que a verdade evidente na transpiração do olhar. Sinto seu calor daqui, mas não sinto segurança em nós. As pessoas perdem tanto tempo pensando nos outros que conseguem esquecer de si mesmos; outros pensam em si mesmos e esquecem dos outros. Outros se esquecem de tudo por não pensar em nada... Eu sei onde vou chegar em breve, mas me privo de entender a razão. E se eu souber, esquecerei.